domingo, 11 de setembro de 2011

O brinquedo ganhou da brincadeira

Na escola do meu filho proibiram o futebol. Foi determinado que a quadra só poderia ser usada uma vez por semana para este fim. Nos outros dias nada de bola, pois segundo as coordenadoras/psicólogas/pedagogas acontecia no recreio a "ditadura do futebol". Além das brigas, faltas, olhos roxos e caneladas. E como hoje reina a paranóia do "bullyng", proibiram o futebol as segundas, quartas, quintas e sextas. Só na terça. Se chove na terça fica quinzenal. O garoto reclama, diz que escolheu essa escola por causa da quadra, que desde o ano passado sonha chegar ao terceiro ano para poder jogar na quadra boa, se sente injustiçado. E diz que escola sem futebol no recreio não tem graça nenhuma. Nós aqui em casa concordamos, falamos e demos nossa opinião. Incentivamos o menino a reclamar na escola, reivindicar mais uns dias. Ele reclamou, não deu jeito: deixa filho, as vezes a gente perde. Quem sabe ano que vem? Pois bem, deixamos quieto. Eis que na calada do recreio coordenado, planejado para que as crianças interajam melhor, surge uma nova brincadeira, o bayblade. Trata-se de um tataraneto do pião. "Pião de rico", como disse meu querido cumpadre. Pois bem, meu filho chegou em casa dizendo que precisava ter um bayblade. Todos tem, menos eu. Resisti; costumo ter um discurso social/educativo semi pronto depois que um "tenho que ter" eventualmente surge aqui em casa. Mas ele estava com bons argumentos; diante do futebol bissexto, o pião americanóide era o novo passaporte para o entrosamento no quintal. Sábado pela manhã fomos a loja de brinquedos. Cinquenta e nove reais pelo pião cibernético. Depois do choque, o cheque. Descobri que ficam todos em volta dos brinquedos que rodam num "campo de batalha". Parece mesmo o velho pião. No lugar de um dois três e já, falam uma frase em inglês. Uma semana depois o pião rodou fora do "campo de batalha" e sumiu para todo o sempre.   _Não dá mãe! Tem que ter um campo de batalha!_  Dessa vez resisti. Não vou comprar o terceiro pião em um mês. Vamos ver quanto tempo aguento. Já soube que um amiguinho trouxe nove bayblades da Disney. Outro dia, quando fui buscá-lo, vi um gordinho sentado com um saco cheio dos piõezinhos e a sua volta outros meninos deslumbrados. Era quase um rei, tamanha sua riqueza. Saquei que agora a ditadura era outra, só que dessa vez sem o olho roxo e a canela esfolada, comum a todas as crianças. Agora ganha a brincadeira quem tem o melhor brinquedo.  Que me desculpem as coordenadoras/psicologas/pedagogas. Sou mais o olho roxo.