domingo, 12 de agosto de 2012

E se desse tempo de ter sido avô...

Não me acostumo com essa história de não ter pai. E penso como seria ele aqui, já avô. Certamente ligaria cedo, acordando a casa toda. Dormindo até agora com esse sol, minha filha? Reclamaria, ansioso pela nossa presença. Ia querer reunir os netos. Todos eles. As crianças que ele não teve a sorte de conhecer. Talvez cozinhasse um peixe, cozinheiro que estava. E esperaria os elogios. Ia ser um avô bobo, com açúcar. Desses que tem orgulho de deseducar. Que ensina bobagens e até palavrão. Que passeia na chuva. Inventaria presentes diferentes. Brinquedos que só ele encontraria numa loja escondida no Centro da cidade. A essa altura, com a chegada do quinto neto, a segunda menina, já teria comprado um carro com sete lugares. Para caberem todas as crianças com segurança. É melhor comprar outra cadeirinha! Acharia os garotos engraçados e inteligentíssimos. E agora, avô, deixaria escapar todos os seus poemas, beijos e abraços. Acumulados no coração de pai. As meninas reinariam, como esperado. E ganhariam vestidos e laços de fita combinando. E diriam orgulhosas na escola que foi vovô quem deu. Porque além de divertido ele sabe muito bem escolher roupas de menina! E sentaríamos todos em volta da mesa, tentando controlar a algazarra. E o avô olharia orgulhoso aquela prole. Um com seus olhos, outro com seu humor e aquele que dorme assim, com a mãozinha dobrada, igualzinho ao vovô. E pensaria que tudo valeu a pena. Que a vida roda e se reinventa. E agora sim, depois de viver a doçura de se avô, poderia ir embora mais sossegado.