Então
agora eu vou falar sobre a raiva. Essa manifestação tão próxima do amor, mas
que incita dentro da gente nossos piores e mais ocultos desejos. Tenho, de uns
dias prá cá, cortado um dobrado com minha raiva. Monstro fêmea que habita meu
corpo desde sempre. E sempre eu a mantive serena, impondo-lhe certa compostura
apropriada a uma moça. Mas agora a moça não existe mais. Não aquela. Tem outra,
diferente. Mais bonita até. Usa maquiagem, anda bem vestida. E gosta de sair
sozinha. Mas antes, ela já sabe. O monstro fêmea ainda precisa jogar uns copos
na parede, cuspir meia dúzia de palavras, gritar lá do alto da montanha. E
então, só depois, ela, a outra moça, vai sair por aí.