domingo, 15 de dezembro de 2013

Brigadeiro

Acabaram com os brigadeiros enroladinhos. Agora em toda festa infantil tem aquele brigadeiro mole, num copinho ridículo e antiecológico, e uma colherzinha que mais parece um palito. Quem inventou isso? Uma coisa que já estava resolvida. Pega a bolinha e põe na boca e acabou. Sou contra o brigadeiro de copinho.


domingo, 17 de novembro de 2013

Fórmula

Uma burrice querer perseguir essa história de ser artista.
Bom mesmo é ser um produto.
Escolher um rótulo que se adeque bem ao seu tipo físico, à imagem que você vende.
Se você não consegue se enxergar assim faça um workshop.
Um workshop sobre reposicionamento de imagem.
Aprenda com algum coach como se comportar, que trabalhos você deve ter vontade de fazer.
Vista-se bem. Se não sabe combinar a calça com a blusa contrate um profissional.
Apaixone-se pela pessoa certa, alguém que agregue valor à sua marca.
E se você não se sentir feliz, ouvi falar que já existe quem venda felicidade em palestras.



quinta-feira, 18 de abril de 2013

Inconsciência

E quando acordou da cirurgia o médico lhe perguntou se ele lembrava o que tinha dito, ainda sob o efeito da anestesia. Não se lembrava de nada. E o médico lhe disse que toda a equipe havia sido convidada, ainda no centro cirúrgico, para assistir sua peça, que estava em cartaz até o final daquele mês.
É o teatro impregnado na alma, no inconsciente de quem vive para isso, ainda que não saiba muito bem porque. Me lembrei imediatamente de Dulcina de Moraes, atriz magnífica que dedicou toda sua vida a essa arte efêmera e infelizmente morreu sem um décimo do reconhecimento merecido.
Luiz Carlos de Moraes, ator e sobrinho de Dulcina, com quem tive a honra de trabalhar, me contou um dia na coxia essa história: Dulcina já bem velhinha, internada no hospital, fora da realidade convencional, ensaiava um texto com as enfermeiras. Ao receber a visita de um parente, o puxou para um canto do quarto interrompendo o ensaio. O texto é ótimo, o problema é que elas são péssimas atrizes! Ouvi essa história e meus olhos se encheram d'água. Compreendi imediatamente que não tenho como fugir do que está assim tão impresso em minha alma. Porque o teatro, se formos pensar racionalmente, assim na ponta do lápis, é inviável, é impossível. Mas a vida, para quem depende dessas tábuas, desse encontro e desse cheiro de poeira...ah, a vida sem o teatro para mim é impensável!

domingo, 14 de abril de 2013

Aquilo tudo


Era feriado, uma chuvinha. E ela estava ali, tentando cada vez mais estar ali. Naquela sala um pouco arrumada um pouco bagunçada. Ao fundo a trilha de Luzes da Cidade, que o pequeno, que já vai fazer três, assistia estático no sofá vermelho. O sofá vermelho está um pouco gasto. Mas ela não quer um sofá novo. Quer ir à Paris. Tão linda a carinha dele vendo o Vagabundo. Dá até vontade de chorar. Então ela chora. Uma chatice, tudo agora ela chora. E deu pra chorar escondida, porque já não sabe explicar o motivo. Aquela sala. Aqueles meninos. Aquilo tudo. E era tanto pensamento espremido na cabeça. Era melhor ler um livro. Então ela pega o livro de capa amarela que ganhou naquele dia, naquela festa. Foi tão boa aquela festa. E ela chora só mais um pouquinho. Ontem ela encontrou aquela amiga na calçada. A que foi sua mãe na temporada do Planalto. Tão querida ela. E  fala rapidinho, dois beijinhos, um abraço apertado. E a pressa da vida. E já no tchau, antes de entrar no taxi, a amiga fala: eu descobri que a felicidade é uma escolha e resolvi ser feliz.
E ela voltou pra casa pensando nisso.

(out/2012)

De manhã

E ela acorda atordoada. De novo o mesmo pesadelo. Acho que outro, parecido com aquele. E ela não quer mais o mesmo assunto, o mesmo pensamento, mas ele vem mesmo assim. E ela se levanta, lava o rosto e espera que aquela nuvem se desfaça ali mesmo, na pia. Não se desfaz. Então ela disfarça. Que é pra não chover no molhado como ele diz. Mas não adianta. Ela está afogada na poça. Ele não entende. Acha um exagero tanto sentimento. Coisa à toa e ela até hoje com essa aflição. Tanta coisa pra fazer e ela com essa aflição. Tanto trabalho, tanto café, tanta criança, tanta conta pra pagar e ela com essa aflição. Um exagero transbordante de quem não tem problemas de verdade. Ela queria um alívio que não fosse a fumaça. Queria uma magia qualquer. De novo ele não entendeu. Então ela segue. Controlando a chuva que encontra ela sozinha e  teima em cair, molhando o estofado do carro novo.

(out/2012) 

Onde tudo é azul


   E aí vem um susto.
 E acontece bem do jeito que a gente imaginava que seria.
 E ainda assim é um susto. 
 Porque a gente pensa que sabe, mas não sabe.
 Porque acha que é forte e não é.
 E essa mania de querer saber.
 De achar que a verdade é um lugar seguro.
 E agora? E a raiva? E o medo?
 Sei lá o que eu vou fazer.
 Porque tudo que eu imaginava que faria, eu não fiz.
 Não tive vontade. Achei clichê.  
 E agora fico assim, tonta, perdida.
 E triste. Um nó no peito. Um ponto fixo.
 E meus devaneios que me levam a lugares piores ainda. 
 Quero voltar pra lá.
 Onde tudo é azul e bate só uma brisa.
 Onde eu fecho os olhos e durmo. 
 Onde aquele beijo era só meu.

 (set/2012)