terça-feira, 20 de setembro de 2011

Quando meu pai morreu...

Quando meu pai morreu, eu queria que ele morresse logo. Aquela agonia, aquele se desfazer aos poucos era uma facada no meu peito. Um dia cheguei na sua casa e ele tinha tirado a barba. Apareceu um rosto magro e cinza. Meu pai estava ainda muito mais triste que no dia anterior. Depois de vinte anos barbudo ele tirou a barba e encontrou outra pessoa. Fiquei com a sensação que aquele tinha sido seu último ato de esperança: quem sabe por detrás da barba ele não estivesse mais jovem, menos doente.

Depois que ele morreu, já no dia seguinte, a sensação ruim da sua ausência era tão grande que eu queria que ele voltasse mesmo magrinho, mesmo sem barba. Um misto de saudade e culpa.

Fiquei ainda um bom tempo com o ímpeto de pegar o telefone e ligar pra ele, fazer um comentário qualquer ou combinar um almoço no dia seguinte. Uma vez, numa festa, chorei copiosamente por que uma amiga abraçou seu pai.