segunda-feira, 16 de abril de 2012

Confissões de uma magrela

 A moça entra na festinha com seu vestidinho geométrico escolhido a dedo para aumentar um pouco a sua silhueta.  A amiga caminha em sua direção e antes mesmo do oi , fala num tom acima do necessário: você está magérrima! A moça, fina em todos os aspectos, finge não se incomodar com a frase que está ouvindo pela sétima vez naquele fim de semana. E responde num fio de voz: você acha? Talvez ela não tenha conseguido disfarçar a decepção. De nada adiantou empurrar aquelas três taças de sorvete na sobremesa.
A amiga,  bem mais rechonchuda, usava um lindo vestido preto preenchido por curvas bem domadas. Ela deve ter percebido o desapontamento no olhar da moça magra. Mas tá linda! Quem me dera ser assim, comer de tudo e ficar magérrima! Ela disse com uma inveja sincera.
Sim, esse é o maior martírio da moça. A magra, muito magra, carrega atrás de sua sombra esquelética, a culpa por ser leve sem o menor esforço. Se numa roda de amigas ela deixa escapar que está fazendo regime de engorda, recebe em troca olhares carregados de um pequeno ódio contido. As vezes, só em pedir uma coca-cola comum, já sente o peso do seu pecado nos sorrisos amarelos, com gosto de adoçante.
Apesar dos quitutes liberados, a vida nem sempre é doce para as elegantes sílfides. Comprar roupa por exemplo. Quantas vezes a mesma moça já circulou disfarçadamente pela seção infantil de uma loja de departamento. Tentando encontrar escondido entre roupas de manga bufante e porpurina lilás, algo mais sóbrio, tamanho 14, para usar no inverno. Ela não reclama. Gosta até de ainda se pendurar por aí, vendo que a idade chega com menos peso para as magrelas. E segue incompreendida. Entre macarronadas aos quatro queijos, tigelas de açaí e saquinhos de castanha na bolsa. Perseguindo aqueles quilinhos que teimam em faltar. Para quem sabe, sentindo-se gostosa, entrar justa numa calça tamanho 38. Ou, sentindo-se solidária, alcançar o peso necessário para doar sangue para o filho de um amigo do amigo.