quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Girassóis

E a moça estava querendo completar seu pedido de desculpas com um buquê de girassóis. Achava a flor significativa, e além disso apropriada para um buqê masculino. Teve a idéia já no fim do dia, na hora de buscar o menino na escola. Foi e voltou, correu para o computador e entrou em diversos sites de floricultura. Arranjos lindíssimos, significados das flores, sugestões para o buquê mais adequado de acordo com seu motivo. Ela descobriu, por exemplo, que para agradecimento pega bem enviar flores do campo, para uma forte amizade deve-se enviar gérberas, se o bebê nasceu, um vasinho de lírios ou rosas em tom pastel; uma paixão arrebatadora deve receber rosas vermelhas. Mas ela queria girassol! Os girassóis estavam em duas categorias: "homens" e "desculpas". A moça acertara em cheio! Buquê decidido e a tentativa de comprar pela internet. Impossível! Para entregas naquele dia só se o pedido fosse feito até as 18h. Olhou no relógio, 18:12h. Não adianta discutir com um sistema. Programa de computador é assim, chegou na hora limite trava, não tem por favor que dê jeito! Já perdendo as esperanças a moça achou que seria melhor descobrir o telefone de uma floricultura por ali pelo centro, já que a entrega deveria ser feita na Lapa, onde Ele trabalha até as 22h. E pelo telefone fica bem mais fácil convencer o entregador a fazer entrega no fim do expediente. Descobriu o telefone da floricultura e ligou:

Por favor, será que vocês fariam uma entrega ainda hoje?
Ih, moça, a loja fecha daqui a pouco...peraí que eu vou perguntar pro Robson.
(a moça imediatamente sentiu a esperança voltar enquanto aguardava do outro lado da linha; Robson era o nome de uma pessoa, certamente uma pessoa sensível por trabalhar numa floricultura!)
Alô, aqui é o Robson, o que a senhora deseja?
Robson, você acha que dá prá fazer uma entrega importantíssima ainda hoje?
Aonde, senhora?
Na Lapa.
Ah, na Lapa dá sim, é aqui bem pertinho!
(a moça sentiu a alegria do Robson em responder que sim. Esse rapaz nasceu pra trabalhar numa floricultura, ela pensou.)
Ai, que ótimo, Robson! Eu queria enviar girassóis. Um buquê de girassois!
Pois não, senhora, o girassol etá muito bonito, a senhora escolheu bem. Quer escrever o quê no cartão?
Como?
No cartão, o quê a senhora quer escrever no cartão?
Ah, sim. ( a moça fingiu que estava achando normal ditar um bilhete de amor para o Robson, e prosseguiu) Para o amor da minha vida...
(e o Robson repetia enquanto escrevia) Pa-ra o a-mor da mi-nha vi-da... Que mais senhora?
Um beijo da Lindinha
Um beijo de quem , senhora?
Lin-di-nha
Ah, sim! Lindinha... (repetiu o Robson com um certo tom de ironia e satisfação) a senhora fica tranquila que daqui a pouco ele vai estar recebendo esse buquê e vai ficar todo feliz!

A moça deu os números do cartão de crédito para o Robson e desligou o telefone felicíssima. Tinha dado certo! Dez minutos depois o telefone toca: ( o Robson tivera a espertesa de pedí-lo no caso de algum problema ou dificuldade de achar o endereço da entrega)

Oi, aqui é o Robson da floricultura, é que o cartão que a senhora me passou tá com algum problema, deu bloqueado.
Ai, Robson, não acredito. Vou ligar pra desbloquear agora.
Mas tem que ser rápido, a loja tá fechando dona.
Nesse minuto!

a moça desligou imediatamente com Robson, a essa altura já um cúmplice de sua empreitada romântica. Ligou pro número que estava atrás do cartão para desbloquear e ficou ouvindo a musiquinha por preciosos segundos. (ela odiava musiquinhas e gravações...como seria bom se tivesse um robson no lugar das atendentes de mentira). Desistiu do cartão e resolveu pedir a amiga que trabalha com Ele que pagasse as flores na hora que chegassem, no dia seguinte a moça acertaria.
Claro, sem problema nenhum, respondeu a amiga.
Ufa! Ela ligou rapidamente para a floricultura:

Resolvido Robson, o pagamento vai ser feito no ato da entrega.
Pela própria pessoa que vai receber as flores? (perguntou um Robson indignado)
Não, né Robson! Assim meu casamento acaba! Vai ser uma amiga que trabalha lá que vai pagar prá mim.
Ah, bom! Então tá , senhora. Tô enviando nesse minuto!
Muito obrigada, Robson, você arrasou!

E a moça desligou o telefone pensando que as pessoas são realmente muito melhores do que uma máquina.

E descobriu quando Ele voltou do trabalho com o buquê nas mãos que os girassóis são mágicos. E que deve ser por isso que o Robson trabalha na floricultura com tanto gosto. Porque os girassóis são mágicos.

Pequeno diálogo sobre a hipocrisia.

Passamos de carro em frente a uma farmácia:
Mãe, porque o nome da farmácia é drogaria?
Porque vende drogas, meu filho.
Sério mãe? Mas droga não é proibido, não é coisa de ladrão?
Algumas drogas são permitidas , meu filho. Servem pra combater uma dor, uma doença. São os remédios.
E a cerveja mãe, também é uma droga?
É , filho.
E serve pra combater alguma doença?
Não, filho.
Porque algumas drogas são proibidas e outras não?
Não sei, filho.