terça-feira, 28 de agosto de 2012

Uma velhinha no elevador

Ontem, no elevador do shopping eu vi uma velhinha linda. Daquelas antigas, sem plástica, estampadinha de azul marinho. Unhas bem feitinhas, água da colônia e nas bochechas um pouco de rouge.
Na hora deu saudade  da minha avó. Ela era assim também. Uma velhinha velhinha. Uma velhinha clássica. Uma mulher de oitenta com cara de mulher de oitenta. Isso atualmente é raro.  Quase não se vê uma cabeça branca feminina. As mulheres de hoje em dia, conforme envelhecem, vão ficando louras. E no lugar das rugas surgem bocas enormes, inchadas. Ficam todas meio iguais, idades indefinidas, a mentira estampada na testa paralisada. 
A velhinha do elevador não. Tinha quase explícita atrás de algumas marcas do tempo a sua juventude de outrora. Os traços preservados, cara de quem viveu uma vida bem vivida, de quem conversa com o tempo.
Se eu tiver a sorte de ficar bem velhinha quero ser assim, de verdade.


domingo, 12 de agosto de 2012

E se desse tempo de ter sido avô...

Não me acostumo com essa história de não ter pai. E penso como seria ele aqui, já avô. Certamente ligaria cedo, acordando a casa toda. Dormindo até agora com esse sol, minha filha? Reclamaria, ansioso pela nossa presença. Ia querer reunir os netos. Todos eles. As crianças que ele não teve a sorte de conhecer. Talvez cozinhasse um peixe, cozinheiro que estava. E esperaria os elogios. Ia ser um avô bobo, com açúcar. Desses que tem orgulho de deseducar. Que ensina bobagens e até palavrão. Que passeia na chuva. Inventaria presentes diferentes. Brinquedos que só ele encontraria numa loja escondida no Centro da cidade. A essa altura, com a chegada do quinto neto, a segunda menina, já teria comprado um carro com sete lugares. Para caberem todas as crianças com segurança. É melhor comprar outra cadeirinha! Acharia os garotos engraçados e inteligentíssimos. E agora, avô, deixaria escapar todos os seus poemas, beijos e abraços. Acumulados no coração de pai. As meninas reinariam, como esperado. E ganhariam vestidos e laços de fita combinando. E diriam orgulhosas na escola que foi vovô quem deu. Porque além de divertido ele sabe muito bem escolher roupas de menina! E sentaríamos todos em volta da mesa, tentando controlar a algazarra. E o avô olharia orgulhoso aquela prole. Um com seus olhos, outro com seu humor e aquele que dorme assim, com a mãozinha dobrada, igualzinho ao vovô. E pensaria que tudo valeu a pena. Que a vida roda e se reinventa. E agora sim, depois de viver a doçura de se avô, poderia ir embora mais sossegado.