terça-feira, 25 de outubro de 2011

Meninos...

Quando eu nasci, fui a terceira . Dois irmãos antes de mim. O mundo masculino entrou cedo na minha vida. Sempre gostei mais das brincadeiras e dos brinquedos de menino . Bola, autorama, pipa. Fui uma menina de short, rabo de cavalo e joelho esfolado. Passei a primeira infância aceitando todos os desafios do meu irmão  para mostrar que menina também consegue. Fazia até xixi em pé de vez em quando, numa manifestação feminista/infantil.  Já pulei do telhado pra dentro da piscina. Subi até o último galho da goiabeira. Pulei da janela do meu quarto na área de serviço. (eu tinha vários caminhos alternativos ensaiados, no caso de precisar de um plano de fuga da minha própria casa). Amarrei o carrinho de rolimã na mobilete. Brincava de pique esconde, pique pega, polícia e ladrão. Superei os dois longe na molecagem. Naquela fase em que meninas e meninos se detestam, eu era uma exceção. Tinha um amigo que eu adorava, ia até dormir na casa dele de vez em quando. As meninas me olhavam espantadas, quase com nojo. Na adolescência era amicíssima dos meninos, confidente até. Sentava nos fundos da sala de aula, era da turma da bagunça. E já ouvi algumas vezes, na convivência de coxia, que meu senso de humor é masculino. Tamanha desenvoltura no mundo dos homens; sou mãe de dois meninos. De modo que na minha casa, contando o pai, as duas crianças e o cão, moradores oficiais, sou eu e quatro machos. E as vezes a vida é muito difícil. Atualmente ando com muita dificuldade em lidar com a voz de narrador que permanece eternamente como trilha sonora doméstica. Tem sempre um jogo, uma partida, uma decisão! Futebol, basquete, tênis, voley. Não importa. Até uma corrida de barquinhos, um esporte que eu não sei o nome. Tento argumentar, vontade de ouvir uma música, ou o silêncio. Tão bom o silêncio pessoal! Em vão. Parece que é uma partida importantíssima.  De vez em quando me vem um desejo de me entrosar com eles numa tarde de domingo. Coloco a camisa da sorte, sento no sofá, participo de toda encenação. Mas não tenho vontade nenhuma de fazer tudo de novo domingo seguinte. Ontem, depois que o menino estava assistindo a um jogo de rugby na televisão, num dia que já tivera jogo de basquete de manhã e Fla-Flu de tarde, percebi que não tenho mesmo a menor chance. Nunca vou ser um deles. Acho que estou virando uma mocinha. Talvez seja a hora, depois de três décadas, de investir no universo feminino.