domingo, 14 de abril de 2013

De manhã

E ela acorda atordoada. De novo o mesmo pesadelo. Acho que outro, parecido com aquele. E ela não quer mais o mesmo assunto, o mesmo pensamento, mas ele vem mesmo assim. E ela se levanta, lava o rosto e espera que aquela nuvem se desfaça ali mesmo, na pia. Não se desfaz. Então ela disfarça. Que é pra não chover no molhado como ele diz. Mas não adianta. Ela está afogada na poça. Ele não entende. Acha um exagero tanto sentimento. Coisa à toa e ela até hoje com essa aflição. Tanta coisa pra fazer e ela com essa aflição. Tanto trabalho, tanto café, tanta criança, tanta conta pra pagar e ela com essa aflição. Um exagero transbordante de quem não tem problemas de verdade. Ela queria um alívio que não fosse a fumaça. Queria uma magia qualquer. De novo ele não entendeu. Então ela segue. Controlando a chuva que encontra ela sozinha e  teima em cair, molhando o estofado do carro novo.

(out/2012) 

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